Lançamentos de Junho da Companhia das Letras
Arrecife - Onde a Maior Atração Turística é o Perigo
Juan Villoro
Sinopse:
Tendo perdido boa parte da memória em consequência do abuso de todo tipo de droga na juventude, Tony Góngora aceita o convite de seu melhor amigo, Mario Müller, para trabalhar num resort no Caribe mexicano. Nesse hotel de luxo, Mario empenhou todos os seus sonhos de transformar a realidade oferecendo aos clientes uma experiência extrema: o perigo controlado. Os turistas vão para o resort mais do que dispostos a encarar situações-limite e violência em pequenas doses. A programação recreativa inclui sequestros- -relâmpago e encontros com guerrilheiros. A proposta é entrar em contato com uma emoção eletrizante para em seguida voltar a se afundar tranquilamente no sofá de casa. Tudo vai bem até que um mergulhador do hotel aparece morto com um arpão atravessado nas costas. Nesta história de crime, mas principalmente de amizade, amor e redenção, Juan Villoro mostra por que é considerado o maior escritor mexicano vivo.
Finn's Hotel
James Joyce
Sinopse:
No início dos anos 1990, o surgimento de um manuscrito causou alvoroço entre os estudiosos de James Joyce. Encontrado em meio a seus papéis e anotações, Finn’s Hotel foi anunciado como embrião daquele que seria o mais enigmático dos livros do irlandês, o gargantuesco e caudaloso Finnegans Wake. Todavia, uma longa briga judicial privou os leitores do acesso ao texto. Apenas agora, mais de duas décadas depois de sua aparição, é que Finn’s Hotel chega às mãos dos fãs de Joyce. Se Finnegans Wake é um dos textos mais herméticos de toda a literatura universal, este Finn’s Hotel é um presente aos leitores que tanto o aguardaram. Tremendamente claro e acessível, é composto de onze pequenos contos, que poderiam ser chamados de fábulas, sobre a história da Irlanda. Divertidos e comoventes, os textos chegam ao português pelas mãos de Caetano W. Galindo, cuja tradução do livro Ulysses recebeu os prêmios Jabuti, APCA e ABL. Joyceano de mão cheia, Galindo recriou aqui as dezenas de trocadilhos e jogos de linguagem do original. Não se sabe ao certo as intenções de Joyce com o manuscrito, e se essas histórias de fato compõem uma versão anterior do Finnegans Wake. Ainda assim, estão lá Humphrey Chimpden Earwicker, protagonista do Wake, bem como um esboço inicial da magnífica carta de Anna Livia Plurabelle, uma das peças mais belas da língua inglesa. Esta edição traz ainda uma nova tradução do poema Giacomo Joyce, também traduzido por Galindo.
Mil Rosas Roubadas
Silviano Santiago
Sinopse:
Como nasce e de que se alimenta o afeto entre dois adolescentes do mesmo sexo? Da solidão em família, do repúdio à rotina estudantil, das caminhadas pela metrópole? Como esse afeto se frustra e se transforma em amizade duradoura? No ano de 1952, dois rapazes se encontram em Belo Horizonte à espera do mesmo bonde. O acaso os transforma em amigos íntimos. Passam-se sessenta anos. Numa tarde de 2010, Zeca, então produtor cultural de renome, agoniza no leito do hospital. Ao observá-lo, o professor aposentado de História do Brasil entende que não perde apenas o companheiro de vida, mas seu possível biógrafo. Compete-lhe inverter os papéis e escrever a trajetória do amigo inseparável. Encantam-se na juventude com o charme de Vanessa, tutora literária. Com Marília, aprendem a ouvir o jazz de Ma Raney e se envolvem em impossível triângulo amoroso. Distanciam-se: um faz doutorado em Paris, o outro, jornalismo em São Paulo. Reencontram-se no Rio de Janeiro, mas se afastam pelo estilo de vida: do mundo das drogas e do rock’n’roll, Zeca ridiculariza o acadêmico realizado e infeliz. Escrito na tradição literária mineira, Mil rosas roubadas se informa na poesia memorialista de Carlos Drummond, na prosa de Ciro dos Anjos e de Fernando Sabino. Corajoso, Silviano Santiago reúne fragmentos de um discurso amoroso para tematizar mais uma vez a homoafetividade - já presente nos livros Stella Manhattan e Keith Jarrett no Blue Note. Se Zeca é seu personagem principal, são muitos os coadjuvantes do mundo pop e erudito, como Vladimir Nabokov, Dorothy Parker, Paulo Autran e Keith Richards. Além de pôr em xeque os limites entre ficção e memória, biografia e autobiografia, este romance à clef oferece ainda o rico testemunho de uma época e de uma amizade excepcional.
A Mesa da Ralé
Michael Ondaatje
Sinopse:
Aos onze anos, Michael não sabe o que o espera quando embarca no navio Oronsay com destino à Inglaterra, onde iria estudar e reencontrar a mãe. Ao lado de dois outros garotos que conhece a bordo, aprende a tirar proveito da dupla invisibilidade de que goza o trio, graças a sua condição de passageiros da classe turística e de crianças sem supervisão de adultos. Infiltram-se sem serem notados na primeira classe, em cabines particulares de outros passageiros; passeiam livremente pelos porões de carga. O narrador é o próprio Michael, já adulto e entregue à rememoração de sua saída definitiva do Oriente. Ao longo desse processo, ele tem notícias de sua prima Emily, com quem havia perdido contato desde o desembarque do Oronsay, e com décadas de atraso reúne as peças que faltavam para compreender um evento misterioso ocorrido a bordo. Como ele, Emily também ocupou um lugar nas “mesas da ralé”, distantes o quanto possível da mesa do capitão, em que somente passageiros eminentes eram autorizados a se sentar. A localização socialmente desvantajosa, porém, garante que os meninos tenham acesso às informações que podem explicar quem é e o que fez o prisioneiro transportado em segredo pelo navio. Em um processo que faz lembrar As mil e uma noites, o romance encapsula a atenção do leitor ao desfiar pequenas subtramas nas quais os membros da ralé surgem como peças anônimas de uma tragédia que encerra a viagem.
A Beleza e a Dor - Uma História Íntima da Primeira Guerra Mundial
Peter Englund
Sinopse:
Nesta história tão ambiciosa quanto original da Primeira Guerra, Peter Englund aborda o conflito a partir de seu aspecto menos explorado, mas talvez mais revelador: a experiência das pessoas comuns - não apenas a tragédia e a dor, mas também o absurdo e mesmo, por vezes, a beleza dessas vidas. A beleza e a dor não é, assim, um livro sobre o que foi a Primeira Guerra - ou seja, suas causas, seu desenrolar, seu final ou suas consequências -, mas antes sobre como foi esse conflito. O leitor nele não encontrará tantos eventos e processos, mas sim pessoas, impressões, experiências ou estados de ânimo. Uma reconstituição do mundo emocional em primeiro lugar, depois o curso dos acontecimentos. A narrativa é composta a partir da voz de dezenove indivíduos, todos resgatados do anonimato por meio dos diários e das cartas que Peter Englund usou como fonte primária de sua pesquisa. Entre eles há um jovem da infantaria britânica que pensava em emigrar até que a guerra lhe ofereceu uma “promessa de mudança”; um bem intencionado funcionário público francês de meia-idade que tem sua admiração pela cultura europeia para sempre abalada; um escritor socialista que perdeu a fé na transformação do mundo com a eclosão do conflito; uma garota de doze anos que aguarda ansiosa as vitórias militares, pois elas significam a mudança de rotina na escola. Alguns viviam no front Oeste, outros nos Bálcãs, outros ainda na África Oriental ou na Mesopotâmia. Dois morrerão, um jamais ouvirá o disparo de um tiro; alguns se tornarão prisioneiros de guerra; outros serão condecorados como heróis. Mas apesar de suas diversas ocupações e destinos, gênero ou nacionalidade, todos estarão unidos por seu envolvimento - voluntário ou não - no grande e terrível conflito que mudou os rumos do século XX.
Desagregação - Por Dentro de Uma Nova América
George Packer
Sinopse:
A democracia americana está em crise. Mudanças sísmicas no espaço de uma geração produziram um país de perdedores e vencedores; ao mesmo tempo que criou possibilidades antes inimagináveis de ascensão social, e uma liberdade sem precedentes (nos costumes, iniciativa, vida privada), esse novo estado de coisas conduziu o sistema político à beira da falência e deixou legiões de cidadãos à deriva. É esse outro lado da moeda, o verso da fortuna e da liberdade, o que interessa a George Packer em Desagregação.
Nesta viagem à nova América, o leitor encontrará figuras como Danny e Ronale Hertzell, de Tampa, na Flórida, que largam a escola para se casar e a quem a “terra das oportunidades” oferece subempregos no Walmart, habitação num estacionamento de trailers e o completo afastamento de familiares e amigos; Tammy Thomas, uma operária que luta para se manter no Cinturão da Ferrugem, região do Meio-Oeste que perde suas indústrias de forma irreversível e se converte num aglomerado de urbes fantasmas; mas também Jeff Connaughton, um lobista de Washington que oscila entre o idealismo político e o fascínio do capital organizado, e Peter Thiel, o bilionário do Vale do Silício que questiona o significado da internet.
Packer justapõe essas histórias a breves perfis de personalidades públicas desta nova era, de Oprah Winfrey a Jay-Z, e colagens feitas de manchetes de jornal, slogans de propaganda e letras de canções que captam a corrente dos acontecimentos e seus mecanismos internos, numa tradição que remonta à Trilogia Americana de John dos Passos. Desagregação retrata um superpoder ameaçado de perder sua essência, com elites sem qualquer senso de responsabilidade, instituições que não mais funcionam, pessoas comuns às quais não resta nada senão improvisar esquemas próprios de salvação e sucesso.
O Réu e o Rei - Minha História com Roberto Carlos, em Detalhes
Paulo Cesar de Araújo
Sinopse:
Objeto de verdadeira polêmica pública, a batalha em torno da proibição de Roberto Carlos em detalhes é o cerne de 'O réu e o rei'. Paulo Cesar de Araújo conta a história da sua intensa relação com a música de Roberto Carlos, os dezesseis anos de pesquisa que embasaram a redação da biografia, e por fim os meandros de uma das mais comentadas e controversas guerras judiciais travadas recentemente no Brasil. Em novembro de 2006, Paulo Cesar de Araújo lançou Roberto Carlos em detalhes, primeira biografia de fôlego do maior ídolo da música brasileira. A recepção imediata do livro foi proporcional ao tamanho da empreitada. Em poucos dias, ele ganhava resenhas entusiasmadas e atingia a lista de best-sellers. Não foi para menos - o trabalho consumiu dezesseis anos de pesquisa, contou com centenas de entrevistas com as maiores personalidades da MPB e figuras-chave na vida do cantor, e condensava em uma narrativa ágil e equilibrada todo o percurso do ícone da Jovem Guarda. Mas a boa onda duraria pouco. Em sua coletiva de Natal daquele ano, Roberto Carlos reagiu com virulência quando indagado sobre o livro. Acusando o autor de invadir sua privacidade, disse que o caso já estava com seus advogados, que em breve entrariam na Justiça para impedir a circulação da biografia. Em 10 de janeiro de 2007, o rei de fato bateu às portas dos tribunais contra o autor e sua então editora. Foi o início de uma rumorosa batalha judicial, dolorosíssima para todas as partes, e também de uma das mais graves agressões à liberdade de expressão na história brasileira recente. A reação que se seguiu à notícia de que Roberto Carlos propusera ações nas esferas cívil e criminal contra Paulo Cesar - que resultaram na apreensão do livro - ocupou os principais veículos de comunicação do país e alguns no exterior. A polêmica envolveu não só personalidades da política, da cultura e das artes no Brasil, como pessoas comuns, que comentavam avidamente o caso, em redes sociais, blogs, praças, praias, bares. Nunca antes o debate sobre a proibição de uma obra alcançou tamanha repercussão no país. O livro conta a história interna dessa história. Os detalhes, os bastidores. Trata de música e censura. De artistas e advogados. De entusiasmo juvenil e audiências judiciais. Da busca por fontes e negativas. Da luta entre liberdade de expressão e controle da informação. É, antes de tudo, a história de um biógrafo que tenta encontrar sentido nos anos dedicados a estudar a trajetória de seu ídolo na música brasileira. É uma história ainda sem ponto final, mas sobretudo por isso necessária, que deve ser lida por todos os que se interessam pela discussão em torno da liberdade de expressão em nosso país.
O Cão Amarelo
Georges Simenon
Sinopse:
Tempestades são freqüentes na pacata cidade portuária de Concarneau. O ruído da chuva abafa o som de um tiro disparado contra um homem. Junto a seu corpo, um enorme cão amarelo, em cujo olhar parece haver algo de inquietante e sinistro. Configura-se assim mais um enigma que a mente astuta do comissário Maigret tentará desvendar. Para ele, impressões digitais ou objetos deixados na cena do crime valem bem menos do que gestos, olhares, silêncios ou mesmo a presença de um cão sem dono.
A Noite da Encruzilhada
Georges Simenon
Sinopse:
O dinamarquês Carl Andersen é um dos moradores da Encruzilhada das Três Viúvas, onde divide uma casa com a irmã Else. Um belo domingo, encontram, na sua garagem, o carro do vizinho Michonnet - um agente de seguros ranzinza - contendo o cadáver de um ourives chamado Goldberg. O veículo dos Andersen, por sua vez, é inexplicavelmente localizado na garagem dos Michonnet. Logo após o depoimento, Andersen desaparece, e Maigret descobre que Else fora trancada à chave, no seu quarto, pelo irmão. Oscar, o dono do posto de gasolina, e sua mulher completam a estranha vizinhança com a qual Maigret vai se deparar e cujas relações terá de desvendar para solucionar um crime que vai muito além do assassinato.
A Vez de Morrer
Simone Campos
Sinopse:
Quando Izabel voltou a passar seus fins de semana em Araras, a casa da família estava praticamente abandonada. Desde a morte do avô, Izabel e sua mãe pouco se interessaram pelo lugar. A mãe, inclusive, sempre achou que a casa precisava ser vendida. Nas duas últimas décadas, a região serrana do Rio de Janeiro se convertera num veraneio para ricos e famosos, e pouco lembrava a Araras de antigamente, com seus sítios e chácaras familiares. O terreno, hipervalorizado como tudo no Estado do Rio, acertaria de vez a vida das duas. O que poderia vir a calhar, principalmente para Izabel, que vem descobrindo na pele as agruras de trabalhar como freelancer. Entre pagamentos atrasados e a escassez generalizada de serviços, pouco resta a ela senão distrair a cabeça na casa de Araras. E um fim de semana na serra logo vira outro e outro e outro. Aos poucos, o ar de abandono vai dando lugar a uma casa viva, como se aquelas ruínas estivessem sendo reconstruídas pela memória de Izabel. Sem perceber, ela se vê praticamente morando na serra. Como ocorre em todo ponto turístico, Araras é feita de duas cidades. Na temporada, vicejam as lojinhas e restaurantes, as ruas coalhadas de gente. Durante a semana, são os moradores que ocupam a praça, a sorveteria e as igrejas, que parecem brotar do chão. E é justamente essa segunda cidade que atrairá Izabel. O gerente da lan house, cheio de grandes aspirações profissionais, ou sua irmã, eternamente envolvida com a complexa cultura evangélica da região. Ou ainda o amigo do Rio, que pretende instaurar um polo tecnológico ao lado de Araras. Ou a amiga casada, que vai pra debaixo dos seus lençóis. No cruzamento dessas vidas, Simone Campos constrói peça a peça uma trama de alta voltagem sexual, um retrato de geração ao mesmo tempo ácido e delicado, violento e bucólico.
A Arte Francesa da Guerra
Alexis Jenni
Sinopse:
Professor de ciências, aos quarenta e oito anos Alexis Jenni se considerava um mero “escritor de domingo” quando enviou pelo correio seu primeiro romance, A arte francesa da guerra, para a mais prestigiosa editora da França: Gallimard. O livro foi abraçado pelos editores e ao ser publicado, em 2011, arrebatou o Goncourt, o mais importante prêmio literário do país. De estilo clássico, esse romance épico parte de um debate que se tornou especialmente atual durante o governo de Nicolas Sarkozy (2007-2012): em que consiste a identidade francesa? Como as recentes guerras de independência de suas ex-colônias implicaram a constituição de um ideário racista e xenófobo na França contemporânea? Lyon, década de 1990. O jovem narrador perdeu a mulher, a casa e o emprego quando conhece Victorien Salagnon, veterano do exército francês. O encontro com um homem que viveu a “guerra de vinte anos” (apelido que o militar dá para o período que se estendeu entre a Segunda Guerra Mundial e a independência da Argélia) não poderia lhe parecer pior. Mas Salagnon sabe pintar, e o narrador, bem, ele sabe narrar. Os dois resolvem fazer uma troca: o ex-soldado lhe ensinará a usar o pincel e o narrador escreverá sua história. Como a memória de um país é transferida de uma geração a outra? Que atrocidades são reveladas, e quais são escondidas por quem as cometeu? A partir da investigação minuciosa dos eventos do século XX, A arte francesa da guerra oferece um retrato amplo da sociedade francesa contemporânea e constrói uma gênese de seus problemas: a obsessão pela questão da imigração, o desemprego e a violência dos subúrbios. Por vezes aventuresca, sem deixar de tecer comentários de grande valor sociológico, essa obra monumental revela o pleno domínio narrativo de Alexis Jenni em sua estreia literária.
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